*eletr@sheep*

Wednesday, April 05, 2006

Sobre enterros

Por pior que sejam os momentos ruins, sempre temos alguma coisa a aprender com ele. Mesmo com os plantões. E mesmo quando sua tarefa é cobrir velório/enterro de vítimas de acidentes que chamaram a atenção da mídia, temos alguma lição.

(parênteses)
*na minha concepção de jornalismo, só há uma coisa pior do que cobrir enterros. É dar plantão na porta do IML. Num dia de verão. Com muito sol. Eu prendo a respiração só de pensar...
(fecha parênteses)

Então, onde estávamos? Ah, sim! Plantão, cemitério, lição. Pois é, é um grande estudo sociológico. Você analisa o comportamento das diversas classes sociais em um enterro.

- Enterro de rico sempre é silencioso. Todo mundo usa óculos escuros, com o objetivo de esconder os olhos vermelhos, inchados. Ou esconder que não está chorando, sei lá...nunca falam com a imprensa e ainda pedem para funcionários do cemitério convidar-nos a nos retirar. E dizem que imagens só de longe. Tudo muito gentil.

- Enterro de classe média sempre são os piores. Enquanto a parte mais abalada simplesmente não quer falar, e até pede educadamente para a imprensa se retirar, sempre tem uma prima ou uma tia distante que grita de longe: "bando de carniceiros...urubuuuus. Vão caçar carniça em outra laaaaia...". E é daí pra baixo. E aí um sobrinho gordinho arremesa coisas em cima dos fotógrafose e cinegrafistas. E a confusão está feita.

- E tem os enterros de pobres, em que todo mundo quer aparecer. Vem pai, mãe, filho, esposa, amante, primo, amigo, papagaio e o escambau a quatro , todo mundo disposto a dar sua opinião sobre o defunto. Trazem 3x4 para o 'boneco' do fotógrafo, topam tirar foto e dar depoimento pros canais de TV, perguntem (e anotam!) quando essa matéria vai sair, choram debruçado no caixão e dizem que querem 'ir junto', e sempre terminam com a mesma opinião sobre aquele que foi dessa para melhor:

"ele era uma pessoa, boa, carimática, alegre, tão cheia de amigos e vontade de viver..."

O que, imediatamente, me faz pensar que gente ruim não morre. Bandido, suicida e aquele primo filho da puta nunca morrem. Afinal, todos os enterros que eu cobri até hoje, o defunto era uma pessoa boa, carismática, alegre, tão cheia de amigos e vontade de viver...

Ainda hei de cobrir um enterro em que, ao abordar um parente, vão virar para mim e dizer "esse aí? um filho de uma égua, desgraçado! Nunca prestou! Os pais, coitados, quanto desgosto tiveram com ele...Ainda morreu me devendo dinheiro, esse pústula. Estou aqui só pra ter certeza de que morreu mesmo..."

Hum, quem sabe?

4 Comments:

  • depois do enterro do pústula, em breve o funeral do biltre e do poltrão também

    rs

    By Blogger Andre Gordirro, at 1:59 PM  

  • The psychologist is "on".

    By Blogger Mônica, at 2:00 PM  

  • A Rapha me falou tudo errado.
    Meu comentário anterior era pra ser:
    The doctor is in.

    :)

    Whatever, vc entendeu o sentido da coisa hehe

    By Blogger Mônica, at 2:06 PM  

  • Hahahahaha! Lucy! Claro! E é claro que a Rapha tinha que contar tudo errado, horas...ou não seria a Rapha! hehehehe

    By Blogger Ale, at 4:16 PM  

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